Pilates é um alívio para pessoas com Fibromialgia
- Livia Auni

- 30 de jan. de 2019
- 5 min de leitura
A Fibromialgia (FM) é um quadro patológico conhecido há muito tempo e vem sendo seriamente pesquisada há quatro décadas.
A FM não era bem definida até a década de 1970, quando foram publicados os primeiros relatos sobre os distúrbios do sono. O conceito da FM foi concretizado em 1977 quando foram descritos sítios/localizações anatômicas com exagerada sensibilidade dolorosa, denominados tender points, nos portadores desta patologia.
A fibromialgia (FM) é uma condição de dor crônica não inflamatória pouco compreendida na qual os pacientes experimentam dor nos quatro quadrantes de seu corpo (figura 1).

Além da dor, os pacientes sofrem distúrbios do sono, fadiga e transtornos do humor. Outros sintomas estão associados a essa síndrome, como rigidez matinal, cefaleia crônica, enxaqueca, distúrbios gastrintestinais funcionais, ansiedade e depressão.
Não há ainda uma causa definida, mas há algumas pistas, como em estudos que mostram que os pacientes apresentam uma sensibilidade maior à dor do que pessoas sem FM.
É como se o cérebro das pessoas com FM interpretasse de forma exagerada os estímulos, ativando todo o sistema nervoso para fazer a pessoa sentir mais dor.A FM também pode aparecer depois de eventos graves na vida de uma pessoa, como um trauma físico, psicológico ou mesmo uma infecção grave.
O que geralmente acontece de início é um quadro de dor localizada crônica, que evolui para todo o corpo.Alguns ainda duvidam dos sintomas dessas pessoas, se perguntando se a dor é real ou apenas psicológica.
Hoje, com técnicas de pesquisa que permitem ver o cérebro em funcionamento em tempo real, descobriu-se que pacientes com FM realmente estão sentindo a dor que dizem sentir.
Mas é uma dor diferente, mesmo sem nenhuma lesão no corpo, a pessoa sente dor. Mesmo não sabendo a causa exata, sabemos que algumas situações provocam piora desses sintomas.
Alguns exemplos são: excesso de esforço físico, estresse emocional, alguma infecção, exposição ao frio, sono ruim ou trauma.
Estudos científicos têm consistentemente apoiado a atividade física como uma modalidade benéfica para dor crônica, função física, sono, função cognitiva e modificação geral do risco de saúde e doença.
Entre as diferentes modalidades de exercício, as pesquisas mostram bons resultados, especialmente com exercícios aeróbicos, que demonstraram melhorar a capacidade física de pacientes com FM, juntamente com sintomas e função física.
No entanto, outras modalidades de exercícios podem ser usadas, e uma delas é o Pilates. Os exercícios de Pilates visam melhorar a flexibilidade geral e a saúde, concentrando-se na “casa de força/power house” formada pelos músculos centrais (diafragma, transverso abdominal, multífido e músculos do assoalho pélvico).
Também melhora a postura e a coordenação da respiração combinadas com outros movimentos.
A prática de Pilates pode ser uma opção de atividade física no tratamento da fibromialgia, pois a literatura aponta algumas vantagens do método: melhora da capacidade funcional, da flexibilidade e do equilíbrio dinâmico, além de minimizar o recrutamento muscular desnecessário, que pode causar fadiga, instabilidade e prejuízos à recuperação.
Komatsu e colaboradores realizaram um estudo com mulheres diagnosticadas com Fibromialgia, onde realizaram um tratamento com exercícios do método Pilates pelo período de 8 semanas com duas sessões por semana com duração de uma hora.
A terapia consistia em exercícios do Pilates solo para tronco, membros superiores e inferiores. Os resultados mostraram que o tratamento com Pilates tem efeitos positivos sobre a intensidade da dor e regiões dolorosas de mulheres com Fibromialgia.
Existem algumas hipóteses que podem explicar o aumento do limiar de dor em pessoas ativas quando comparado a pessoas sedentárias. A mais estudada e aceita é a analgesia induzida pela liberação de opioides. Se praticado regularmente, um exercício, da mesma intensidade e duração, libera exponencialmente mais endorfinas (substância de grande poder analgésico que estão presentes em estado natural no cérebro).
O hormônio do crescimento (GH) também participa da modulação da dor e sua secreção depende diretamente da carga e frequência da prática de exercícios.
Outros estudos com indivíduos saudáveis mostram que a falta de sono reduz a concentração de GH e pode causar dor semelhante à dor difusa experimentada por pacientes com fibromialgia.
A prevalência da FM é de aproximadamente 2% na população geral. A proporção de mulheres para homens é de aproximadamente 6 a 10:1, ou seja, as mulheres geralmente são mais acometidas.
A maior prevalência encontra-se entre 30-50 anos, podendo ocorrer também na infância e na terceira idade. Esta patologia, que já faz parte da vida de muita gente, pode ter seus sintomas amenizados, trazendo mais qualidade de vida para esses indivíduos.
O diagnóstico da FM não significa o fim de uma vida com qualidade, existem tratamentos e oportunidades que trazem essa qualidade de volta. O movimento com qualidade oferecido pela Fisioterapia já foi comprovado e pode ser a saída dos seus dias dolorosos.
Espero que esse texto, baseado em estudos, tenha sido útil para você.
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